quinta-feira, 6 de julho de 2023

Café doce

Era um pouco mais que uma manhã. Ele já havia lavado o rosto, escovado os dentes e molhado cabelo para depois penteá-los. Era rosa a luz do sol que entrava pela janela. Um silencio perturbador invadia os cubículos do apartamento. O cheiro de um café quente crescia de uma xícara marrom e andava pela casa. Encontrava as toalhas sujas do banheiro e saia pela estreita janela do Box entrando na pela sala do apartamento dela. Ela assistiu a filmes a noite toda, dormiu com o DVD ligado, o cinzeiro lhe estava a poucos metros do nariz, o nariz estava junto à cabeça, estes, atirados em um sofá verde, o moletom bege, tinha manchas de sorvete de seis horas atrás, queimaduras de cigarro de duas semanas e secreção genital de dois dias. Ela sabia que seria mais um dia em que chegaria atrasada ao trabalho que os dentes seriam escovados nos banheiros da estação rodoviária, que seu chefe a olharia com aquela careta de imperador romano que ela sentiria-se mais uma vez, diminuída diante do poder dele sobre seus subordinados. Sabia que esqueceria de por comida e água ao gato, e que nove horas depois, se tivesse azar, chegaria em casa, e iria, novamente, se sentir culpada. Sabia ela que mais cedo ou mais tarde naquele dia ele voltava de viagem, e que iria passar por lá, com as mesmas perguntas de quando ela tinha quatorze anos. Acordou sentindo cheiro de mãe, e a procurou por um estante pela sala, a vinheta inicial do DVD repetindo e repetindo. Ela saindo correndo com aquele casaco azul horrendo que lhe garantia que só fulano olhasse para ela, mesmo que dela ele mais desejasse as panturrilhas, encontra ele todas as manhas pelo estreito corredor do ônibus, e enfrentar aquele seu perfume barato de promoção de hipermercado. Graças adeus ela nunca teve que dividir um acento no ônibus com ele. Quando no verão ela o flagrava babando em suas panturrilhas ela se intimidava e lembrava o resto do mês de sair de calças. Adorava o amanhecer daquela cidade, o céu sempre se iniciava cinza, um azulado nascia do seu centro, este ia levando o cinza para o horizonte, distante mas não muito, ainda meio dia podia se ver ele, lá longe dando um tchau. Quando a tarde chegava, aquele cinza se transformava no rosa que lhe invadia casa, bem antes do amanhecer. Ele desejava que assim fosse um dia inteiro, que fosse assim por inteiro as horas que chegariam. Mas o lixo acumulava embaixo da escavada, os sacos eram disputados pelas baratas que cresciam na caixa de cereal que comeu semana retrasada. Noite passada ela sonhou com pombos. Não há graça nenhuma em sonhar com pombos, eles voam, eles comem grãos, eles fazem sons estranhos, que distraidamente você diria que seria de uma alguém levando estocadas na bunda. Mas não era, eram pombos, nada mais que galinhas voadoras. Uma casa de vidro suspensa ao ar, isso lhe soava impressionista, tinha um ar Salvador Dalí em tudo aquilo, aquele amigo iria voltar de viagem cheio de fotografias, mas ele não queria ouvir nem metade das historias que ela tinha para contar. Postou se ao parapeito da janela. De onde olhava, via Olga sair para o trabalho, sempre Olga as seis e meia, nunca levou um tropicão na calçada, nem mesmo quando umas das pedras se elevou com a raiz de uma arvore próxima. Sempre com seus vestidos ridiculamente estampados de florais, sempre o cabelo preso na nuca e a nuca presa à cabeça, a cabeça ao pescoço, o pescoço ao corpo e o corpo a rotina de nunca tropeçar. Era engraçado, e ela chegava a babar muitas vezes ao rir disto e seu café ficava a esfriava ao lado do braço na janela. A busca ficou vazia quando um facho de sol bateu na parede de um prédio que estava a duzentos metros de lá, estava amanhecendo. Ele não tinha mais o que falar para ela, que não fosse lhe pedir desculpa. Muito talvez a culpa era dele por ela ter tropeçado em seu lixo na calçada. Ele lhe colheu a mão do chão, lhe deu apoio para se levantar, e já de pe seus rostos, seus olhos, o ar que ambos respiravam se encontraram. Ele nunca tinha visto tão belos olhos, tão desejável boca, e sobrancelhas tão provocantes. Ele aspirou o perfume dela e sentiu seus pés flutuarem, ele ali sabia que encontrava o céu, e que esse céu tropeçara em seu lixo as quinze para sete da manhã, logo depois de que passara Olga, Olga que nunca havia tropeçado... mas Olga não era, e estava bem longe de ser céu, estava tão longe, que se lê soubesse da eficácia de um saco de lixo na calçada para se fazer levar um tropicão, ele a muito já o havia colocado para ver Olga cair. Ficando desajeitado ao ver a moça mancar ao se firmar de pé, ele lhe oferece um café quente, uma poltrona confortavelmente vermelha e um minuto de repouso em seu chiqueiro particular. A escova de cabelo tem dias que não ajuda, a deixava com o cabelo elétrico, e fazia ela se sentir recém saída de um filme de terror. Com duas calças limpas para usar e outras cinco molhadas na maquina de lavar, achar uma única blusa que combinasse se o dia esquentasse, esta um tinha uma frase de protesto estampada, não aquela que ganhou quando fez vinte um, “SEXO JÀ!”, mas outra, que meio que mandava as pessoas para a puta que os pariu, mas em outra língua. Os sapatos podiam ser pretos ou os tênis multicoloridos, as meias em sua maioria eram brancas, mas suas preferidas eram rosas, amarelas, azul e com algum bichinho bordado. Ela saiu apressada, o cabelo, agora molhado, umedecia o casaco, o sapato de salto médio, estalava no piso do corredor do prédio, deu sorte em pegar o elevador descendo, saiu deste correndo, viu na rua uma luz que cegava, viu uma vontade de voltar para cama a cada passo, viu o coletivo numero trezentos e vinte nove, de cor azulada, listras brancas, o mesmo bigode negro ao volante, sorrindo pro nada feito um babaca com sorte. Ela correu, o quanto pode, o dedo já se estendia junto ao braço que erguia ela chegava a calçada, quando tudo a sua frente embaçou e as pernas param de se mover, seu corpo foi de encontro ao chão, e logo vinha uma mão cheia de desculpas a lhe amparar. Cheirava a café, tinha barba mal feita, seus olhos eram escuros como uma noite, tinha costeletas que confundiam com o cabelo desarrumado, tinha fios vermelhos no cabelo, fios isolados, mas bastante visíveis àquela hora do dia. Seus dedos eram finos e longos como de um pianista desajeitado, seus dentes eram tortos, e seu queixo tinha boa harmonia com a boca de lábios desenhados e o pescoço forte. Ela pensou que foi bom ter lavado o cabelo, foi bom ter escolhido o salto e não os coloridos tênis e as meias de bichinhos, que este ser desarrumado de jaqueta verde, e possível mancha de doce de uva do lado direito de sua veste, foste um bom rapaz. Que ela se encantou fácil por aquele sujeito descompromissado consigo mesmo, cheirando a café, e aceitou quando ele lhe prestou socorro, e nem ligou ou se importou do lixo que fez ela perder o ônibus ser dele, e menos que chegari bastante atrasada. Já no apartamento dele, enquanto ele buscava o café na cozinha, ela viu seus quadros de artistas de Jazz, um violão sem cordas, um bloco de papel amarelado ao lado do sofá, junto de raspas de lápis apontado. O que encantou ela neste singular cenário aos seus olhos foi o relógio cuco do gato Felix, e o cheiro de café das coisas, pois eram as coisas naquele apartamento que cheiravam a café, como se a tudo ali tivesse algum dia, pingado uma gota da bebida escura e amarga. Ele voltou da cozinha com sorriso bobo na cara uma xícara branca cheia de café, e perguntou onde ela havia se machucado. Ela ergueu a bainha da calça ate o joelho, e assim também despindo a panturrilha, a sua tão formosa e famosa panturrilha, adorada por coletivos a fora em dias quentes de verão. Ele não precisava de mais nada alem do que já havia acontecido naquele dia para ter ela em carinho, mas depois de ver sua panturrilha, ele realmente começou a querer ela para si. Ela disse “aqui”, apontado o local ralado com o dedo. Ela lhe falou isso olhando-o nos olhos, de baixo para cima, com um puro ar de fragilidade de criança.

... Foi assim

Ontem comprei passagens para bem longe. Que tipo de arrepender me espera, diante de tudo que deixo, onde muitas vozes se poderiam se ouvir eu fui ficando verde e meus frutos foram secando e caindo ao solo, que desastre é esse, que tipo de pessoas são essas que flertam aos cabelos em conversas de MSN. Que pensar bem louco em achar que deixar de viver aqui é deixar de estar com todos. Havia coisas por lá que me apaixonavam, haviam coisas por lá que me pegavam em um embalo sonoro confortante, muito mais sóbrio que estes tecidos de lembranças que se rasgam com o tempo, deixar e viver e viver para respirar algum pútrido ar que me carrega nos ventos distantes de qualquer coisas. Vou chamara assim, não se tem segredo com palavras, qualquer coisa não coloca endereço nas palavras e da a elas a liberdade de viver sobre o tempo, mesmo que as passagens cheguem, o ônibus esquente seu grande motor, pegue e chegue a alguma estrada a quarenta por hora, que vazio bem grande me atinge agora, estou no embalo de uma guitarra chorosa de Harrison, aposto que o amo, nunca fui de lhe falar isso, não interessa agora. As linhas que se aceleram, que lindo é de ver o inverno chegar da janela de meu quarto. A nuvens pousam como pássaros sobre os morros limpos, verdes, vão ficando cinzas. Um dia desses, uma águia, ou um condor, não sei qual bicho era, este, me cantou sobre a cabeça, eu segui nos olhos, eu lhe dobrei uma rua e fugi outras tantas. Ele me via, com certeza me via a dias, ele deve ter me cantado muitas vezes, deve mesmo ter toda vida dele sobre algum canto sobrevoando minha cabeça. Em um dia cinza ele me leva para o despetalar cruel do outono, ele foi me levando as esperanças e me dizendo pare. Procurei fugir disso, nem sei porque, vaguei aquela tarde bem encontrado, mês cadarços marrons desencontrados entre si, coitados, pedindo e me dando um tropeço, nunca aconteceu. Por fora isso não me prendia, eu o via de seu voar o pousar sobre o carvalho, o choro de seus passados, de seus vôos sem me ver, de seus solos e rasantes sem pretensões, eu me indo ele chegando ao seu lar. As asas bem estendidas ao ar. Eu poderia tocá-las se realmente fosse o deus que digo ser, eu poderia lhe dizer as bobagens que correm sobre minha língua, lhe alisar sobre as penas fracas, úmidas. Não. Ontem estava a comprar as passagens para sair dali, eu vi alguns meninos brincando, alguns deles, ou somente um, ira se apaixonar francamente pela vida, ela vai olhar para ela e ver algum passo que se possa dar, ele lhe vai se seguir em passos e passos, ele vai procurar comer alguma coisa doce no verão, e lhe bastara pouco para ele se sentir confortável. Eu vi alguns portões, me senti solo novamente, nada disso me faz bem, essa minha percepção só me faz acreditar que eu vejo, nada vai passar disso. A velocidade cresce eu vou andando, eu vou andando. As marcas do chicote somem vamos engolindo cada vez melhor as coisas. Acho que estou esfriando, eu sinto que estou esfriando a cada dia, nenhum sentido para tudo, mesmo assim minha boa lábia mental diz, não precisa fazer sentido para já que não entrou nessa por você, certo, agora que estávamos certos eu poderia ser alguma espécie de desastre ambulante que colide progressivamente, que lindo de visualizar isso, um ser aos poucos se emborrachando contra um murro de concreto, hehe, o melhor! Ele mesmo se joga lá. Não esta valendo, e me sinto apagando. Faz um frio terrível na parada onde pego ônibus, eu devo acreditar que a chegada do inverno tem algo haver, eu já falei sobre isso, o belo de suas manhãs tem algo de tortuoso quando encarado de outra perspectiva. Quem diria que um dia ou uma situação fosse de meu desagrado mimado do revelar calmo das pernas de moças que passam. É alguma espécie de provação, só pode ser isso, essa soma enorme de merdas que me vem acontecendo só podem me fazer mais fortes, essas grandes merdas só podem me endeusar mais no final, ou me tirar de vez da jogada. Bom, esta na hora de ser sincero então. Já correu bons dias, e vamos ver no que dá.
De Março a Maio, a vida foi assim
Acredito que fui atingido por algum tipo de vaidade. Sabendo de quem sou parecendo não se desgarrar de velhas manias, me levando ao alto de meus sonhos loucos, acreditando que o pensar e o querer podem andar lado a lado, eu sofro de alguma vaidade. E talvez, agora, de alguma depressão de cocaína. Ficou estranho ver esse meu lado nesses últimos dias, vendo que a sintonia se relaciona, e minha escrita erronia de meus pensamentos subversos de uma sociedade que tento espelhar em meus textos, que talvez, só exista, e nasça, aqui, em minha cabeça. Eu fico tentando encontrar esse turbilhão de coisas, os relacionamentos humanos, suas complicações bestiais, talvez todos teriam que ter meu descompromisso com o mundo, talvez todos devessem ter um pouco dela em alguma parte da vida, e deviam entender numa distancia irracional, o mundo dela. Talvez, o que seria de mim, e qual seria o eu dos últimos anos? Talvez fosse aquele rascunho inquieto e frustrado que um dia, lhe disse um oi arrogante no primeiro olhar. Fica um pouco de mim daquele mundo, o final de minha adolescência, algumas coisas vem comigo, não quero deixá-las. Algumas coisas ruins me fizeram maior. As muitas coisas boas me endeusaram. Eu não pediria mais nada agora, isso só sai de minha boca pelas certezas que posso levar comigo. Mas temos, e teremos querer mais do mundo. Parece que o alto dessa caminhada não foi em vão. Mas me sinto pesado agora. Sinto-me mais pesado que nunca antes. Eu tinha algum pingo de juventude antes. Isso me levava aos lugares. Tinha algumas incertezas tementes em minha alma e isso me fazia andar em algum caminhos. Agora vejo um mundo mais falho, estranhamente falho, um circulo enorme de vaidades que me repulsa para fora, não que eu queira isso, mas para essas vidas a verdade pareceu deixar de ser a muito tempo uma bela invenção para se respirar na natureza. Eles amam, muitos deles amam, lindamente, mas se diminuem em si, pois seus amores não chegam e correspondem a um receptor burro. O mundo parece falso, ou fraco nos seus interesses sociais. Eu não consigo ver tudo como algo bom, mas vejo muitos olhos onde o bom pode se deixar morar, ou se deixava. Eles andam perdidos em ônibus, calçadas, filas de bancos e supermercados, eles me acenam em uma calçada e se escondem na próxima esquina. Eles parecem não esperar mais nada, mas quando perguntados sobre seus anseios, suas línguas pulam ao ar com mil fantasias inimagináveis. Seus olhos rolam pelo ar como se pudessem ver o mundo acontecer. Eu tento chegar nelas e dizer lhes algo. Mas ainda sim me foge a razão do porque eu teria que fazer isso. Estava tudo ali quando chegamos, as mesas estavam postas, bem postas para eles, eu diria até que elas muradaram de lugar para mim, mas não foi por um bem, nem por um mal, mas, simplesmente por que elas deviam estar daquele jeito quando eu chegasse para sentar. O que eu podia ver dali, e o que eu deixei de ver daquele lugar. Eu fui chegar nela com uns dezenove, e era tão torto isso naquela época, que hoje eu diria assim, desculpa, mas eu vou melhorar com o tempo, mas não, não sabíamos de nada disso, não sabíamos que seriamos maiores, por mais que acreditamos em alguma imoralidade bestial, que nossos cabelos voassem em descontrole que levasse nossos pensamentos a crer que estávamos bem perto dos deuses. O tempo foi nos mostrando e nos esculpindo, e com algum toque de crueldade não nos transformou menores do almejamos, mas nos atirou para estradas singulares, deu a cada um, uma vida, uma vida que fosse para se levar, e levamos essas vidas aos dias de hoje como se nós, arrastássemos nossas vidas com pedras gigantes presas aos pés, nossa... Quantas vidas podem dizer o mesmo. Todos tem seus temores e fantasmas, mas esse que enfrento me parece tão intimo que ao tempo que chamam, ele me vai levando os dias, as horas, os minutos, os segundos... e as pessoas que nesses todos, como eu, estão a morar. Estou cercado por alguma vaidade não a duvida disso. Alguma coisa rara me passa na cabeça. Parecendo atingir algum estado de ápice, a primeira parte desse texto foi feita sob efeitos grande de alguma química. Mas estranho. Ao ter ele agora, olhar para ele, tentar recuperar o pensamento que caia como se em desfiladeiro estar, mas, no maximo que me vai, um café quente, vou tentar recuperar o fio do rolo que se levou para casa. Lembrar que uma dor de cabeça me nascia na fronte antes de fazer a janta, que pelo eu tinha alguma fome ao chegar em casa, isso foi bom de sentir. Me perdi novamente, estou no terceiro dia desse texto, ontem não pude perder a oportunidade de sair cedo, fui. Antes de sair, olhei sereno as ultimas linhas do parágrafo acima me perguntando quanto tempo eu conseguiria levar o mesmo texto a correr dos dias. Hoje já posso fugir um pouco do começo, não vou ser fiel a pregação que rolou no inicio dele, mas posso dizer que algo ali reflete uma boa realidade. Ainda hoje ela me chamou, novamente meu coração aperta como se estivesse entre espinhos, “que frase infantil”, mas meus sentimentos em relação aos anseios dela pode se dizer que são iguais aos dela, ela pode ir levando á vida dela, em copos de cerveja, quem me pode ser mais fiel que ela sendo ela mesma. Eu posso vender toda minha alma colecionado buchinhas de cinqüenta reais no bolso. Eu queria poder dizer pra ela que coleciono algo melhor que a privação de minhas auto-aulas de escritor contemporâneo. São tantas pessoas passando que nem sei mais quem pode passar. Encarar as coisas assim, ritmo e coração bate. Aos goles de cerveja que descem. Nossa, que eu comecei esse texto a tanto tempo que eu nem seu como ele anda agora, nem sei porque ele anda no seu agora e nem mesmo posso dizer que ele tem um agora. Na ultima sexta percorri louco alguns pouco metros de cidade. Não, posso dizer que estava bem perto de seu leito, mas isso sempre estive, mas estou falando de fisicamente. Eu respirei um ar bêbado e estimulado de sua cidade. Eu desci em ponto para buscar umas cervejas, mas não era lá, falei ao ouvido de alguns conhecidos, entrei em ser simpático com quem eu não via a muito, um homem que esbanjava dinheiro na mesa de sinuca. Uma pessoa do meu passado, me recebeu com um sorrir nos lábios me beijando a face como um bom filho que volta ao lar. Não, eu parei a afastar, estou na minha ultima viajem hoje, estou a ir pra casa, meu motorista, veja ele, um imploro aos olhos para ir para casa. Amor, não foi nada, mas eu ficava a falar e falar, e vem ao lado uns azuis enormes, cheios de curiosidades. Que droga de mão é essa que me cerca a cintura. A risada já corria ao bar intero e as bolinhas continuavam a cair em suas caçapas. Antes que a buzina começasse a tocar lá fora eu virei para responder que eu sou eu, oras, se não me conheces, boa sorte. Os azuis diziam algo, vem aqui, eu dizia, vou não. Uma mão branca buscava a minha e eu sumia. Pela porta com algumas latinhas na sacola, levantei o braço a me despedir do restante. Droga de gente que me vê, droga de gente que não me vê em outra. Que meu nariz explode energia, que minha boca cheia de dentes anda fazer milhões discursos dispersivos, mas não, não para agradar o Bento 16, nem para reaver a alma e progresso da nação das donzelas que correm atrás de jovens a lá “on the road”. O vidinha perversa. Entro no carro e pergunto ao motorista se ele gostaria de uma foda antes de ir pra casa? Não, caralho! Comigo não...hehehe. Tem uns olhos lá dentro que por pouco não me deixam voltar, vai que trago esses pra cá, vai que faço, nossa, estou tã4o confiante que eu posso voltar lá e trazer três. Hehehehe, ô merda de pó, até quando isso... Não fizemos nada demais no restante daquela noite, eu conversava berrando e ele dirigia escutando. Gentilmente me deixou em casa, como sempre, e sem nenhuma recomendação demasiada, me desejou um bom fim de semana. Eu sabia que ira acordar mais uma vez com delei do tempo na cabeça, e mil espirros pelo dia. Acordei em um domingo com ar de Budaste. Estava aquele clima amarelo e notei que a comida do gato tinha acabado. Ixi... lá vamos nós, nem sei se ela esta na cidade, mas já que acordei tarde vou passar no trabalho para ver quantas merdas aconteceram nestas ultimas horas na cidade. No começo de Ramilonga de Vitor Ramil, ele canta “olho o cotidiano da cidade, sei que vou embora, nunca mais, nunca mais”... Escrevi a frase a cima a uns quatro cinco dias atrás. Nem sei mais que sentido mora nela. Acho que foi no dia que um cheiro forte vinho pairou no trabalho e algumas carreiras foram feitas na mesa. Sinto uma pena de mim que talvez só eu possa sentir. Um dia desses tentava arrumar a vida amorosa de uma menina, pobre menina, não desistia do temperamento explosivo de seu amado, eu nem sei mais, nem sabia, o que falar para ela. Vou ter mais tempo essas semanas, o plano mestre deu certo, nem sei por que mas meu sorrir solitário agora tenta ver as coisas do mundo de uma maneira melhor. Nunca sei quando isso vai terminar, esse meu tique sonhador, ver esperança a cada passo, eu devia ser algum tipo de ativista fudido que se mantem de pé sobre algo, sonhos, idéias, deus sabe lá como é esse tipo de gente, mas eu sonhei com dias, sei lá onde eu me perdi. Mas ... que grande merda de vida eu levo nos últimos anos. Por um detalhe não é tudo que eu sonhei, mas esse detalhe é tudo o que mais me falta. Ontem foi aniversario dela, não fiz nada de especial, não lhe comprei um presente, não fui a sua festa, nem lhe liguei para dizer que não ia. Esperei até a ultima hora para lhe ligar, mas ela apareceu on-line antes, e ai, meio que sem palavras, que péssima pessoa que sou, nem ao menos me dei ao esforço de escrever alguma palavra. Não devo ter a decepicionado mais que toda nossa vida nos últimos meses. Ela não poderia ter isso, ou poderia, ter esse gesto meu como o fim da picada, o fundo do poço e ... sem algum comentário mais relevante eu poderia dizer a ela somente as mesmas bobagens que só ela acha graça nesses anos que passou. Os vinte cinco dela podem ter cheiro de vida nova, muito bem, ela é um luz eterna, isso faz algum sentido. Os meus tinham ar de que, estou vivo, ainda bem. Vou estar muito tempo por aqui, uns dias com mais tempo, outros com menos. As pinturas a óleo de Max Ferguson são impressionantes. Eu não teria como colocar e nem tirar mais adjetivos ao trabalho dele, posso ter duvidas quanto a sua real integridade, mas o realismo que ele passa em suas telas é algo de espantar. Mas o que vou tentar agora é fazer uma relação entre o trabalho horrivelmente chato de um artista plástico, pois já tentei ser um deles, com essa minha vida de desbravador do cotidiano humano contemporâneo e minha atribulada vida pessoal. Não sei que passos bons eu poderia ter dado hoje, hoje eu poderia ter feito tudo, como todos os dias de minha vida, eu poderia ter pedido minha mulher em casamento, ter levado ela a alguma festa no fim de noite, se ela pagasse, e poderia ter feito amor com ela em alguma canto escuro do qual eu tentaria reproduzir alguma cena romântica que me vem a mente agora. Não fiz nada disso. Quando ele me senti intrigado pela sua frase no MSN, e fiz um saudar frio, nem tanto, mas alguns segundos depois me fez pensar no grande mal que estou fazendo tanto a mim quanto a ela. Sempre me foi um grande conforto saber que ela tinha uma boa estrutura social, tinha uma família com boas pessoas, tinha amigos que a desejavam bem ao ponto de sempre lembrar dela, em muitos, não todos, mas muitos momentos. Tinha uma boa educação e era infinitamente esperta para o mundo. Quando ela deseja, ela vai, faz, e sei lá mais o que ela pode fazer. Mas que isso tudo, talvez na falta de relevância dos fatos, eu sempre a vi bem cuidada por lá, não teria que ter alguma grande preocupação maior, meu mundo se fazia num caos dos diabos de desejos egoístas e eu andava a dançar as musicas dos outros já algum tempo. Que inverno terrível foi aquele amor. Eu fui lhe ver naquela tarde, era um começo de agosto, ou fim de julho, eu não tinha carreiras passando pelo meu corpo, e eu me senti muito feliz quando você abriu aquela imensa porta branca e me sorrindo tímida, meio ar de estranheza me pediu um abraço. Eu te falei que nunca mais voltaria a lhe deixar só, acredite, era verdade, eu poderia passar o resto dos meus dias ali, te esperar, sair e voltar, poderia ter todos minhas coisas ali a sua volta, eu seria um homem infinitamente feliz com tudo que você poderia me dar. Aqueles dias me foram o melhores nos últimos quatros anos, meu ar voltava, minha mente fluía, eu voltava a sentir os pés batendo no chão, e depois de muito tempo podia sentir que estava finalmente em alguma direção, e o melhor de tudo é que não teria mais que mentir mais nenhum segundo de minha vida, eu poderia seguir minhas bases e loucuras como fossem, tudo ali funcionava e dava certo. Em resumo a um parágrafo que parece curto, eu estava sendo sincero com o mundo, eu tinha voltado a fazer as pazes com o mundo. Eu voltei muitos daqueles dias pra casa, dando discursos no táxi, eu voltei incomodando as pessoas pelas ruas por que eu queria que elas soubessem que eu estava bem, eu estava de volta, onde eu fui?, estava me sentido leve e ao pesado para fazer e enfrentar o que me viesse. Mas minha cidade começou a ficar pequena. Não sei como isso foi acontecendo, eu nem ao menos os procurei, mas as noticias sobre minha pessoa não refletiam meu estar, fui inúmeras vezes questionado pelos atos que tive com ela. Isso não estava me incomodando porque eu sabia onde eu devia estar, eu sabia como eu devia estar. As cobranças foram tantas no final., que acabei em conflito comigo mesmo. Eu passei uma semana a pensar sobre isso tudo. Pensei em inúmeras coisas sem sentido, e até mesmo namorei bem de perto uma idéia de suicídio, que coisa bem tola de se pensar, não sei qual escritor ou filosofo, escreveu uma vez que o suicídio é a única questão que se deve mesmo ser pensada. Que fuga extraordinária eu estava criando. Eu viraria um herói para meu amor, você, e ao mesmo me colocaria na escuridão do passado falho para meu problema. Eu não poderia desejar mais que isso nesses dias. Que se fosse para levar esses dias assim, eu os levaria assim, até o fio da espada me partir de vez, teria alguns poucos felizes, esse mundo aqui, voltaria a me ver bem, eles voltariam a me glorificar, eles não tem nada, eles nasceram sem mãe, nasceram sem pai, não sabem dizer eu te amo, sem ver que isso também é não deixar de ver as coisas para o bem próprio. Sim amor, você esta certa, mais uma e inúmeras vezes como sempre, estou morrendo e estou ficando, estou levando e vou me deixando, vou me apagando. Não vai sobrar nada para ficar aqui, mas ai eu vou deixando o que de mim eu mais gostei, com você eu vou deixando a parte de mim que mais gostei nestes breves dias. Alguma fúria, sorrisos, frases espontâneas e sinceras, abraços quentes e o orgulho de ter tentado ser alguém que você amou. Aquele agosto passou rápido. Eu fiquei naquele agosto, eu nem sei por que me deixei lá, mas por aqui se soltava fogo, algo de estranho nascia em mim, melhor... ali, a partir daquele momento, tudo começou a se desmoronar. Eu não tinha que passar por nenhuma crise alcoólica, não tenho tempo para esse tipo e escuridão, mas tenho que esconder meu medo, meu choro, tenho que desvirtuar um tudo para ser algum pouco. Eles vão esquecendo de mim, e vão me pregando numa cruz de egoísmo, loucura, impulsividade... loucura novamente. Eu acordo os dias pensando, as vezes me leva um sonho bom, ma abre os dias, as vezes eu olho pra ela e consigo acreditar que fiz algo bom pra minha vida, outras tantas vezes eu penso que falho a cada tentativa que forço com ela. Amor, sendo sincero, naquele fim de agosto aonde eu pude ver o céu e o límpido horizonte me nascer aos olhos; naqueles dias que eu respirava o ar da minha boa Porto Alegre, eu não pude deixar para trás o fato de que eu era responsável por uma vida. Que eu fui fraco em me deixar levar pela boa vontade de não conseguir deixar para trás pessoas que estão em alguma pior. Eu pesei naqueles dias suas vidas, e você tinha tudo no meu pensar, você andava próximo do maximo, assim como eu naqueles dias. Mas eu deixava para trás alguém em uma poça tão profunda que não conviveria de bem com meu mundo sabendo, sendo acusado todos os dias, por todos os olhares que me procuravam e que me seguiam, que eu tinha falhado em ser um homem bom. Os escolhi dos outros, e mais uma vez como vem sendo nesses últimos anos. Eu me coloco no fim de uma longa fila, me deixo ser crucificado para buscar nos olhos de meus próximos, o mais breve obrigado que eles podem me dar por toda a grande merda que eu tive que passar para ver e fazer eles vencer, para os ver subir. Eu sei que sou boa luz aos seus olhos, mas o que valeria para esse seu bom homem, era a repulsa dos ficaram para trás. Eu me preocupei com os passos que alguns jovens poderiam dar, eu me preocupei com a vida de alguma garota, que contrario de você, não me era um encanto natural, não me dividia um pensar, nem me expirava mais que alguma ereção momentânea, eu me dobrei a vaidade e egoísmo de erros de terceiros e aos meus próprios, eu fui ficando, eu fui morrendo para salvar ou até mesmo ver que fim de vida é esse de alguém, que contrario de você, não tinha um pai, uma mãe, não tinha sequer um bom sonho, um alguém, que para meu azar ou sorte, me tinha nestas condições. Lembrei agora de um dia daquele agosto em que sentamos para comer uma pizza. Lembrei que você muito preocupada, talvez, meu olhar já demonstrasse algo horrível que se criava em minha alma. Você me questionava sobre o fim de meu namoro, eu tentava lhe dizer que tudo aquilo era um passado que eu não queria nem relembrar. Eu acredito que não fui convincente naqueles minutos onde eu fugia com meu olhar inquieto dá preocupação social que ainda havia em minha cabeça sobre a outra. Sentado ali, eu já me montava ao cenário de, que tempo bom é esse, eu aqui, a mulher que eu amo, a mulher de minha vida a me sorrir e a me regar os lábios de maneira tenra. Eu estava no céu que tanto procurava, mas não deixava de pensar, que eu tinha vendido esse mesmo sonho, a um alguém totalmente frágil ao mundo, alguém que não teve nenhuma oportunidade ou sinceridade no mundo. Eu via ela amor, como nenhum outro semelhante a tinha visto, e eu era terrível em minhas vaidades com ela, mas ela cedia as elas pelos méritos de perfeição e sonhos que vidiavam seus jovens pensamentos por mim. Sim, eu mereço uma boa parte de terra no inferno por esses últimos três anos. Por minha inteligência que saltou murros e fez de dezenas de pessoas vitimas de minhas loucuras. Minha louca busca pela alma do ser me fez ver como o causador da miséria que ele sofria, assim, se eu um dia me coloquei na responsabilidade de tirar ele de lá, eu deveria ver de ter e sofrer com ele, todas as suas enfermidades mentais. Eu vejo um libertar nos olhos dela, um dia desses, pude jurar que ela, ao chegar em casa disse me que tinha traído. Seus olhos negros e acuados do mundo, pobre moça, essa suas jovialidade das impurezas no mundo, me deu sorrir de ver que depois desses anos, ela pode evoluir ao pecado em uma relação. Eu não a culpei. Como é sabido de voz, eu me dedico muito ao trabalho, nos últimos meses os diálogos com ela se transformaram mais vazios. Nessa mesma época, eu pude brincar com essa situação, não me condene amor pelo que vou relatar agora, mas que se não procurar me divertir com isso, o que sobra é muito pouco para sorrir. Ao notar o distanciamento, da traição pintada aos seus olhos, eu provoquei nela o sentimento de culpa, esse frágil ser, que em muitas horas tenho pena, noutras me divirto com o ridículo das cenas que ela me monta, se jogou, seu doce, de repente tinha se voltado a minha pessoa. Como a culpa pode agir de forma tão estranha na cabeça das pessoas, olhei com certo repudio depois disso e me vi rindo por dentro a cada dia que se passava, mas, isso, também como muitos dos sentimentos que vi nascer e morrer nela, com o tempo se transformou chato. Eu decidi voltar a usar minhas calças, isso foi causado pelos últimos acontecimentos dos dias, seu aniversario, que mais uma vez eu me vi em falta imperdoável, o grande show, que com o tanto de coca que ando usando nem sei se vou, me deprimo, ou cheiro mais e me deprimo por não ir. Ela esta morando comigo desde do setembro passado, então fica aos meus dias uma limitação maior do que se imagina, eu cozinho pra ela, ela conta seus sonhos de ser algum tipo de artista plástica, e não entendo nada dessas coisas, eu digo sempre que estou do lado dela, e que ela pode fazer o que bem entender, ela vê isso como se fosse uma repulsa minhas as suas ambições, eu não posso deixar de ver ela como uma adolescente com todos os passos do mundo para se dar, então ela vai desacreditar, sonhar, se ferir, eu devia falar para ela que eu não poderei evitar todas essas coisas, que minhas cruéis criticas as seus sonhos e ambições é a melhor preparação para o mundo que ela vai encontrar. Sim, eu me sinto transando e casado com uma menina, com alguém sem a mínima noção do mundo, eu fico muitas vezes apavorado com isso, pois que esses meus olhos muitas vezes querer tirar todas essas atribuições sexuais dela, queria que ela ficasse ali, mas que não se sentisse como meu par, mas como alguém que cuido, era só isso que queria, isso é ridículo de se pensar, mas olhe para mim, eu não desejo mais nada daqui. Eu já tive milhões de dias bons para morrer, mas não... eu fui ficando, eu fui vendo e fui querendo ver quando isso tudo pudesse acabar, quando o passaro poderá voar, realmente amor, eu sou um bom pedaço de algum sofrer, que pode ser saber lidar com tudo isso. Tem dias que dou uma risada sincera para o mundo, tem dias que eu chego até a pensar que nada disso, a historia pode me pegar, tem dias que eu posso ficar parado pensando em mais nada, tem dias que o tesão e as drogas não me pegam, tem dias que eu vejo o mundo como lugar legal. Dias desses ela aprendeu como é fácil fazer um estranho sorrir, ver esse ser tão desconexo do mundo daqui, o estranho lhe olhar de bem, como se lhe desce todas as medalhas do mundo, eu gostei tanto de ver que ela tinha aprendido isso, mas ao mesmo ela tem uma facilidade de me mostrar que aquilo é algo irreal ao seu mundo, que enquanto eu pensava que ela dava passos de liberdade, ela mais se mostrava egoísta ao tudo que eu tentava lhe mostrar. Eu não sei dizer, mas ela em tudo isso me pareceu de certa forma pegar só o de pior meu. Já fez algum tempo. Alguma depressão me atinge nesses últimos dias. Dias desse lendo o blog dela tive que me perder nas palavras que ela escreveu. Lembro que era algo parecido com inverno, ela me namorava, me matava e eu colecionava novos álbuns de Bossa. Hoje nada muito diferente, eu namoro, pareço tentar fazer isso, ainda com algum blefe com a morte, mas com alguma ética nos bolso para que o sofrer do tempo não seja maior. Egoísmo e rancor. A tudo que eu ensinei a pequena, amor, ela pareceu aprender muito bem a cada passo, cada linha que eu a coloquei, mas não adianta, não se faz de um alguém burro um esperto. Nisso meu arrependimento bate. Uma colega me disse que ela se mostrava apaixonada por mim, incompreensivo isso quando eu junto dela, certo a transmitia um certo pavor de ser aprovada a todo o momento. Eu devo de real, ser alguém que pede provações aos que me parecem menor. Eu sempre deixei isso bem claro a ela, ela nunca se fez merecer que a olhasse de igual ou superior, nunca foi metade do que você é para mim, você foi a pouca pessoa que me coloca em algum eixo sem ter que eu questionar o pouco caminho que pode se abrir. Acontece que fiquei com um medo terrível dela nos últimos dias. De ela ter sacado algo, algo que enquanto eu estava longe de tudo, com as veias e fios cheios de cocaína, algo que não pude ver. Fiquei a pensar que todo o estudo tinha se mudado de rumo, e que o filhote estava por mais abusando do espaço dado. Tudo bem ter seus jovens casos amorosos para preencher seus vazios vinte anos ao meu lado. a construção tem hoje, uma parede de tijolos tão imensa que não saberia mais dizer onde o casulo se perdeu no caminho. Foi lendo seu blog, era uma quarta-feira, eu tive que me perder em suas palavras, e veja só a quantas anda minha insegurança ao mundo, eu criei esse mundo tão imenso e traiçoeiro a mim mesmo, deus me perdoe se estiver errado, mas, eu sei que vou te amar, era um violão e e luz acesa em dois mil e cinco, um garoto que buscava no silencio, o silencio arquitetante de suas armadilhas e o garoto em seus milhares de caminhos tortuosos. Deus, eu cantava aquilo a uma parede branca de alguma casa de minha cidade, eu imagina seus olhos pelas três, quatro horas da madrugada, nesses dias alguma melodia a mais tocava as incertezas, o blefe da morte era insistente e a esperança era algo que nascia e crescia fervorosamente em meu peito. O fim de um homem é feito pela sua falta de esperança. Pois quando esse jovem se vê no encaracolar de suas próprias ações ele não vê outra solução ao seus destino que a morte. Deus, como supliquei por alguma salvação que não me pegasse aos meus ideais éticos e humanistas que destroem minha vida social. Diretamente falando, eu me sinto traído e abandonado por mim mesmo, e quando este que já fugia de alguma depressão ao prazer do pó, agora eu volto a ceder a morbidez da bebida. Andei bebendo muito nos últimos dias. Pensei que amor dediquei os últimos anos de minha vida a lhe entender, a lhe ganhar em cada vida que eu via, e ao desgaste terrível de ver os olhos se desmancharem pelo amanhecer de não ser você que despertava ao meu lado. devo estar levemente bêbado agora, não há uma ato desta canção que eu possa despejar alguma integridade, eu sempre duvidei de minhas alcoólicas palavras, mas a cada dia que eu sai apaixonado para lhe ver, a cada dia que eu iniciei alguma depre fudida, minha sobriedez me dizia que a casa de meu coração estava longe, eu trai o mundo com os meus de salvação em massa. O meio e o homem, que outro ser poderia ser eu se eu sou uma grande parte disso tudo. Talvez nem mesmo você olhasse para mim se eu não tocasse o mundo como se mundo fosse uma orquestra a ser regida por um ser maior. O maior dos meus pecados foi deixar de lado em toda essa historia a minha bela princesa, eu não devia pensar que ela de certo ficou de lado em minha historia, esses dias todos eu a coloquei em cada gesto, e ainda assim eu a pude ver em cada pedaço deste mundo imenso que esses pequenos olhos verdes, que ela tanto amou em ver com sede e saciado, puderam ver. Eu poderei dizer depois de muito que eu fui sincero com alguma parte de mim em tudo isso, e que essa parte foi a que mais me agradou. O que é uma rã se não um bicho verde que pula. Então este minha “reverbrete”, seja lá o que for isso, é para minha amiga e esperançosa Raquel. Aquela que a cada dia amor, acreditou e esperou, e esperou, e teve dias que mesmo ela ficou só, nos poucos dias que te procurei, ela se enchei de lagrimas por dentro, se encheu de ódio pelos cantos, retrucou o mundo, mas ainda assim acreditou e acreditou que eu fosse estar lá. Amor, teve dias que ela me acordava, cheia de emoção em seu corpo, eu sei que eu fui tudo pra ela, eu vejo isso nos olhinhos pequenos dela, eu via toda aquela mágica adoração de ver aqueles lábios desejantes somente a minha pessoa, como era bom ter aquilo que busquei, beijar o desejo perfeito de ser único. Como eu oferecia a ela todas as coisas em mim ela me buscou por igual. Ela me arrumou o jeito, e até você pensou que mudei. Eu ganhei o mundo, eu me sentia assim. Vivo em um espaço, fazendo parte de um mundo qualquer, desconhecido dos dias, eu fui levando ela para casa, ao mesmo eu fui lhe dizendo adeus. Um ser tão puro, ingênuo, tudo que um retardado loco pode estragar. Mas ainda assim amor, ela me amou, ela me ama. Ela não aceitou outro homem ao seu leito, não fugiu para um local longe de meus passou, e mesmo distante, a isso não sei dizer, eu voltava pra casa, às paredes da velha casa de minha vó a perguntar onde estava a moça que fazia meus paços flutuantes pelos corredores empoeirados de madeira. Eu nem sei dizer quantas vezes ela acreditou mais e mais em nestes anos, mas eu vi e fui vendo, que os ser, eu, achava o seu lugar, a adoração infinita de um ser, o ego que explode, o melhor dos desejos de poder ver e retribuir a algo que se busca na simplicidade que tantas vezes chegou me afastar dela. Quando o mundo me olhava distante, ela me olhava mais próximo, me dizia para crer, subestimada, eu fugia de seus agrados. Confiante, eu aos seus, um canalha, a busca terminava, no consolo desesperado dos vários braços que apareceram. Eu não sou nada deste anos, do encantamento do ganho de viver se não tivesse esses minutos todos aos dela. Assim como a você regeu a ter e conquistar, ela me soube dar o lidar dos dias, ver com paciência as nuvens que se desmancham. No inicio ela me deitava ao colo, nunca tivemos essa cena, que pena. Mas ela me ouvia religiosamente, voava junto aos meus sonhos, desdenhava de minhas fracas piadas, me fazia de poco caso quando, bêbado, eu tentava provar a ela que o universo conspirava ao meu plano. Assim foi a noite de mês juvenis sonhos. Eu não encontrei aquele garoto de quatorze anos que cantava musicas como um hino de sua vida. Mas eu pude sentir que ele finalmente adormecia saciado. Foi uma mega noite. Arrogância que prevalece, esse meu eu hoje pareceu temer qualquer um que possa lhe fazer mal. Foi em “Slide Away” que senti um arrepio percorrer meu corpo de forma sobrenatural. Estava ali, todos os sonhos e vaidades, nem Elvis poderia imaginar, poderia sobejar de mais poder, mas aquilo que se passou, eu olhei para o altos das cadeiras, arquibancadas, eu olhei as pessoas a minha volta, era dono do mundo, eu me senti pulsante como um coração juvenil, como meus melhores dias de coca. Eu respirei tudo aquilo de forma cúmplice, minhas pernas tremiam e olhos se enchiam de água. Ao dar uma volta na multidão, sentir o cheiro das pessoas, sentir elas de perto, vibrando pelo mesmo, divagando tudo, eu queria falar com todas. Esse cara adormeceu em algum canto, abusou de algumas linhas, e ficou a se apagar na historia dos meus queridos. Eu fui a algum solo, depois, algo mais intimista, mas não poderia parar de percorrer e buscar na almas das pessoas o vagar sereno que buscava, eu estava bom para seguir, ele me saudava lá fora me dizendo venha, e um frio gritante me dizia pare. Decidi encerrar, chamei você minha bela, que há essa hora tinha um olhar cansado de tudo. Tive que pensar que pessoa terrível me transformei. Todas as noite de indelicadezas e eu saindo de um banheiro mais agitado que algum copo que tivesse a balançar. Te levei pra casa, deveria ter ido embora, mas a uma veia criativa que me nasce quando lhe encontro que me transforma nisso que se perdeu em algum lugar. “Nos encontramos solos, em algum deserto destes de esquina, e nos estendemos às ruas com todas as suas saídas.” Minha vaidade super alterada. Sim, eu me senti no céu. Se eu mesmo não posso dizer que eu era algum céu. Ali, o taxi saia, eu namorava as ruas de uma cidade que eu amo sem razão. Eu dei algum discurso de distanciamento. Eu me sentia com algum direito de reclamar meus pensamentos, eu confiei a você meu silencio. Mas quando lhe vi acuada no canto da cama, cansada, mas ainda sim procurando me entender. Eu me vi no terrível que sou. Vivendo para mim em mim. Eu era mais sincero ao mundo naquele agosto, não tenho duvida. Acredito agora que talvez aqueles dias me foram os últimos do apaixonado que conhecia. Mas eu me apaguei, tive que me apagar. Junto a tudo a isso, toda essa mágica da escrita começou me a não mais ser sincera. Eu fui morrendo no tentar reproduzir sem fim, de historias que morriam sem algum sentido moral a minha alma. Assim, sem escrever com alguma pura necessidade e paixão que me movia antes, ficou difícil fazer, eu fui morrendo em minha parte criativa, fui me transformando em uma caricatura de fuga, que não busca um final ou um continuar no seu passar. Fui me escondendo sem fim no disperso de alma que aproveita ao gozo, e fui me perdendo daquela eu que amava, e tinha com paixão para com o mundo. Foi ficando difícil escrever, pois fazia isso com sinceridade que não mora em mim já faz oito meses. Assim, não vendo mais outro rumo, o criador teve que se fazer de alguma criatura, e foi tomado por completo pela sua vaidade. Perdeu tudo, e como se nunca tivesse nada, não procurou lamentar, o desvirtuar era tão grande que abandonar tudo que ele tanto amava era se tomar e transformar em algo irreal inaceitável o lamento, esperado alguma compreensão humana. Não agora, vai ser mais fácil escrever sobre ruas vazias, uma depressão controlada, uma distancia que se maquia com um bom pó. Droga, esta difícil escrever. Quando a oito meses eu decidi viver essa mentira toda, credu, estavam todos certos, isso tudo só iria me destruir e machucar aos que amo.

quarta-feira, 22 de junho de 2022

O canto dos Pinheirais

A simplicidade das coisas muitas vezes nos assusta, mas são as inesperadas obras da vida que nos atormentam. Tu nasces, andas, corres e some. Um dia tem que voltar. Descobre que neste mesmo dia em que volta, traz o joelho tão ralado que é como se tivesse tomado muitos tombos, os olhos não brilham como uma chama jovem. Carregara para sempre uma confusão na cabeça que nem sabe como começou. Morrerá, quase certo isso, sem resolver boa parte de seu passado. A sol seca o asfalto úmido, eu, bebendo uma última cerveja no terminal, entre as dezenas de pessoas que passam por mim neste instante, sou a única pessoa que interessa para esta história continuar. Sendo assim respiro, e como um facho de luz que se movimenta pelo solo, começo o pensar. Em dias de chuvas, com muito vento, me assustava. Isso era natural para uma criança, o barulho dos trovões, o bater do vento sobre as árvores, tudo isso era terrivelmente assustador para mim. Meus pais até achavam engraçado, esse medo, uma coisa de adulto que leva consigo lembranças boas de chuva que uma criança ainda não pode presenciar. O que me assustava na tempestade, essas coisas do fim do mundo, de parecer que o último selo fora retirado, e a repercussão de um país que sofria com enchentes e inundações. As manchetes dos jornais no dia seguinte mostravam uma Porto Alegre caótica, pontos críticos que aceleravam os desastres sobre as cabeças das pessoas. Era um caos, um tipo de caos que me foi apresentado na infância. Um tipo de mal que não me vacinou para os outros muitos males que a vida pode me apresentar. Ao subir no ônibus aquela tarde, o que mudava em mim entre as moedas e trocados, o habitual vale transporte que não havia, as meias molhadas, e pés resistentes à tristeza que baixou em meu coração; era uma chuva que pairava, dentro e fora. As coisas de adulto nos deixam mais triste que um breve temporal. Eu já havia entendido há muito um choro de mulher, mas o choro de mulher sempre parece lhe escapar quando ela pensa, ou quer acreditar, que ele não possa voltar. A viagem seguia e ia deixando para trás mais uma vez minha adorada vida, que tantos e todos os problemas me causou, tantas alegrias me felicitou, muitas. Muitas vidas uns diriam, abraçados à suas simplicidades; eu sempre procurei por mais. Um contentar falecido dos sentidos sempre me assustou, ao mesmo que uma linha romântica batia aos meus olhos ao desejar alcançar sonhos que me tomariam um rumo. Seriam um milhão de sinônimos que seriam facilmente descritos com o balançar dos cabelos... Que facilitaria, interminavelmente seria em adjetivos, uma infindável lista de filmes e livros que acredito, falaram muito para mim sem falar. Gosto da estrada, as coisas passam, se resgatam e não é como se nunca mais fosse voltar; a saudade é algo bom de se sentir muitas vezes, só não aprecio a saudade quando não há como a matar, dar nó ao fim. Sempre me deixou um desconforto cruel o fato do passado não poder ser (re)apurado, certo que alguns me causam conforto, outros arrumaram de tão bem seus lugares em um ninho da história que penso ser errado tocar. Claro que não são os dias, os dias mais nada são que conseqüências das pessoas que o fazem. E mesmo assim, muitas vezes acordamos irados, e muitas vezes, agora, temos que seguir para outros lados, procurar um brilho que nos faça sorrir, uma história. Porque o desapego sempre me parece um velho pançudo e chato. Ele gastou horas de sua vida no trabalho, se apegou ou deixou se apegar pela rotina de se conquistar uma carreira e agora que perde os poucos cabelos que lhe resta se acha um vencedor. É difícil encarar um sujeito desses. E difícil fazer a mudança de direção. Agora que vejo, por uma última vez esses prédios; sinto falta dos bons amigos que consegui cultivar. A eles não houveram velhos pançudos, mas sim, mesas de bar risonhas, noites intermináveis na alma, as ruas, memórias, as lâmpadas da cidade sempre foram realmente a verve luz que encontrávamos... Recordações, retratos mal tirados de nossas vidas... Concentrei-me nas luvas que não usava, apoiei a cabeça contra vidro deixando o pensar me levar. Pela última vez vejo o rio, um breve trecho da estrada me premia com a coloração marinha do lago... Lago; pois o rio dos teus sonhos nunca passou de um lago. Alguém um dia te escrevera um belo romance, algo que se espalhe pelas estradas, como minha vida agora, uma volta para casa, como um rio ao leito. Suas ilhas e precipitações, seus povo que sofre no paraíso, nunca vi tanto de mim neste trecho de água que banha a cidade. É sujo pensar isso, mas muitas vezes eu fui, e se a idéia principal for da pureza... Estamos iguais. Cansados dos pescadores, de quem nos faz penar uma maré mais densa, peixes de aquários vesgos. Meus olhos procuram algo que a estrada já fez passar. Os pinheirais assoviam, posso ouvir um gritante vento vencer o vidro da janela e chegar a mim como uma canção mágica, talvez um grito, uma saudação da natureza a minha coragem. "Vá filha", ela diz, "que são os poucos dias, as poucas horas a penar, o amor te levou um pedaço, e te acrescentou mais um bocado de força ao coração, levasse tempo para vencer uma vida, e talvez nem queira lutar até o final". Não quero um esforço final, onde um possível suspiro de solidão pode me pegar. Quero, talvez, olhos confortantes que possam me guiar quando sentir medo, ou onde eu possa ler um amor fácil de entender e de aceitação boba, envelhecer ao seu lado. Um egoísmo, isso que nós mexe por dentro e acende chamas, quando não houve tempestade, não houve medo, levávamos tudo bem, na estrada podia se andar. Era fácil achar os caminhos, o leito colaborava e água era boa. Os pinheirais sossegados balançavam em silêncio, sem ira... Meus olhos procuravam novos rumos, o ônibus seguia, uma estrada se abria, a vida... tinha que continuar.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

3xistir

Vou te dizer que foi uma música que me fez pensar sobre nossas vidas, mas isso é uma mentira ou distração. Estava tudo lá, como sempre esteve, os colecionáveis de nossas vidas bem posicionados pela estante da sala, a espera de visitas em nosso lar, todos nossos lindos filhos sorrindo nas fotografias no final foram as únicas grandes vitórias que podemos dizer que carregamos com sucesso até aqui. A magia da vida adulta se perdeu na pilha de boletos, garrafas vazias pelas manhãs, notas em tubos para virar passagem na volta a de casa. O óculos torto na face enquanto mais um sol amanhecia. Mas não é importante nem necessário dramatizar, então vamos a alguns trechos da Star Treatment, canção que de me inspirou a essas palavras, esse pensar. Os versos deste poema musical simplesmente me foi capaz de colocar meu assento de ego no devido lugar. Sem luxo algum, com a humildade conveniente, vou dizer que as frases do poema ainda me deixam reflexivo.
“Ask your mates but golden boy’s in bad shape”, sim, totalmente fora de forma e sem algum sentido parecer, não me prestaria mais aos velhos shows que reproduzia, tenho que admitir meu tempo, e assim é minha melhor forma de seguir.
“Baby that isn't how they look tonight, oh no, It took the light forever to get to your eyes”, as coisas realmente não são como antes, e que bom que é assim. Tudo que posso ver agora das coisas boas que tive, estão tão distantes em minha cabeça que hoje quando olho mais próximo elas já parecem ter mudado ou simplesmente deixado de existir. É triste, elas ainda tem brilho, mas não estão mais lá.
“Maybe I was a little too wild in the 70s, back down to earth with a lounge singer shimmer, elevator down to my make believe residency, from the honeymoon suite, two shows a day, four nights a week. Easy money”. E talvez o trecho que mais ame da música, me diz que tudo que fiz foi de algum exagero desnecessário, um desgaste de gola que estica e não se recupera mais, que por mais que as aventuras fossem constantes, por muito tudo parecia sistematicamente a não me levar a lugar algum. E foram alguns meses somando isso, ou períodos de minha vida, jovem vida, somando os dias e noites, telhados desconhecidos, conversas que se perderam aos dias, uma maneira fácil de ganhar a vida encher os bolsos, consolar solidões, viver a vida de ninguém, ter a guerra que não é sua. Era tão real que hoje posso ver que me deixou um prato vazio para me alimentar ao resto da vida.
A música toda me fez pensar sobre os últimos anos, cada frase sua me atingiu de alguma forma, e talvez por alguma fragilidade minha ao momento fiquei direcionado a ter algo mais íntimo, isso, com ela. É como quando assisti watchman pela segunda vez, quase dez anos depois da primeira, duas tentativas de suicídios, erros graves de caráter, depois posso dizer que enquanto assistia ao início de filme me via muito e bem como o Comedian , e eu era um herói, alguém que a todos poderiam sorrir e contar boas histórias ou alguma história, por algum motivo aos anos fui traindo tudo isso, me enfiando em algum lugar onde só poderia estar no lugar que estava, sorrindo de minha solidão, esperando alguém quebrar a porta para em minha vida algum fim dar. No final era eu mesmo, mesmo sorridente por fora, meus dentes serrados ainda tinham um ódio do mundo que nunca fui capaz de explicar bem. Brinco que sou feito de algum material resistente, mas por ora somos assim, tão frágeis por dentro, que o palhaço por fora ganha mais espaço que as piadas por dentro. Ainda assim, ainda assim, vou viver meus duzentos anos. Para ver esse fim, tanto o seu, quanto o meu, essa terra só vai me engolir quando eu desejar.

Hoje quando chego em casa, o que me espera são salas vazias, paredes borradas de histórias, e luzes que parecem não iluminar direito a sala vizinha. Quando dei por mim já estava com trinta e quatro anos. Tenho um filho de cinco anos, três longas relações amorosas que se colocaram ao fim de minhas manias, e o início de uma quarta que parece me resgatar para antes de tudo isso, esperança. É estranho ver isso agora. E não se pode dizer que existe algum arrependimento sobre as coisas. Simplesmente tive que confessar ao mundo que tem coisas em mim que poderia me abreviar antes de planejado. Estou falando do álcool , a coisa que tanto me beneficiou socialmente se transformou em um problema não mais suportável de se viver. Tenho que confessar que minha total falta de controle sobre a medida desse me leva a ser uma pessoa que não desejo mais ser. Me desculpe você se toda aquela euforia te fazia feliz, se dividimos momentos épicos brindando uma e mais uma em algum lugar que não lembro mais, e é por isso, eu não lembro mais. Simplesmente não tenho total ciência do quanto era feliz ou quanto te fiz feliz, pois para muitas destas noites ou dias não lembro de quase nada. E não existe nada para se celebrar se não lembro de tudo que se passou. Estou preferindo minha felicidade contida, meu sarcasmo e educação lúcido que toda a ousadia e loucura que me possuía quando bêbado. Não posso dizer bem o que me tomou para fora do qualquer curso, não sei se foi as dores pelo corpo que a idade foi trazendo aos poucos, todos me sabem bem, correr andar, um fôlego dos deuses para tudo que era coisa, uma insistência em falar, ouvir, chegar, chegar e ir. Não existia limite, mas não era, ou até por alguma hora era, o álcool me tirava o tédio, o tédio era o estado de espírito. Só posso dizer que era maneira errada, foi a maneira errada de perder muitas coisas, foi a maneira errada de achar que ganhava muita coisa. Então por alguma hora ou outra, e quem sabe em uma manhã onde eu poderia decidir manter algum pedaço de lucidez neste mundo tão louco, decidi engolir a tudo isso sóbrio. E já se faz uns dois ou três meses, e a vontade ainda me desce garganta quando o sol corta esse pedaço de terra, e posso ver pela rua todos os rostos felizes dos meninos e meninas embriagados pelos bares, celebrativos com suas latas ou garrafas pelas ruas, eu a me encostar na macia obra de meu corpo, esperando o amanhecer de mais um dia para poder ter aqui com você em uma qualidade que possa vingar toda a propaganda que sempre me despeja que sou o melhor fazendo isso de meus dias. Foi importante a parada, não salvo de acidentes, mas derretendo a cada esquina de desejo de uma forma sólida, o meu mudar não tem a ver com seu cabelo, com a história que me conta, com aquela boca, nem aos dedos que prendem aos meus. O gesto é mais um suspiro de sobrevivência. Então vou chegando em casa, vivendo as incertezas do dia a dia profissional, e quando desço de meu ônibus estou tão solitário quando entrei pela manhã, a música me acompanha aos fones de ouvido, escuto piadas que sinto vergonha de ouvir e conto histórias que se perdem aos poucos da memória. Volta e meia ainda defendo algum ou outro soldado dos dias que viravam noites, dias assim, chego em casa e não é frio. Mas a casa é vazia, faço minha própria refeição, que tomado ou não por preguiça pode ou não sair ordinária. Os prazeres simples de tomar banho e ter tudo em ordem, cama quente, quarto aquecido, cigarros, silencio, um amor, que por logística, economia ou medo não divide mais que alguns dias da semana comigo. O bolo parece inteiro, mas se vou te falar que falta fatias, acredite, a culpa é minha. Como fui devorando beiradas do doce, agora a reconstrução dele pode parecer de algum ângulo problemática. O que posso ver agora, meu caro, é a mesma luz de prisma que me atingia ao adolecer , a leve melancolia de olhar a vida exatamente como funciona, de ser resgatado e curado por uma faixa de música, e de ser jogado dia a pós dia aos objetivos de um mundo que no final sempre vai me fazer correr atrás de algo que nunca realmente desejei. É justo viver isso? Sim, e me parece uma verdade consistente ao tempo que desejo estar. A verdade é que quero estar, ainda desejo esse pedaço de planeta tão lindo e sinuoso de curvas deliciosas na ponta de minha língua, mas não se pode negar que ao embalo que estava não passaria de sua cintura tão abusada a balançar a ponta de meu nariz. Não se faria tão feliz minha vida que não fosse para ter um prazer eterno, ou pelos menos mais constante de ter minha face enfiada em sua bunda por mais verões. É fácil, e estridente prazeroso as coisas que te compram mês a mês, fazendo seu esqueleto se movimentar cada dia de forma mais cega para o enriquecer de alguém que você nunca vai nem chegar perto. Ficou válido, ficou válido andar e largar as migalhas de caos pelo chão, perceber que em alguns momentos de minha fala, mesmo sóbrio de minhas loucuras, as coisas se embaralham e ainda estão tão próximo de destruir e construir para quando estava louco de álcool. Esse declarar é um tranquilizador íntimo, como o céu rosas que me beija a vista antes de sair do trabalho, sei que onde chego é bom, é um início como qualquer lugar, parece muitas vezes distante, me parece sem sentido alguns momentos, parece que estou no lugar errado, mas te ver daqui, não me faz melhor, só queria poder te dizer que de onde estou, posso tentar chegar mais longe, com alguma qualidade sadia de meus pensamentos, vou lembrando de cada alegria que me possui , vou deixando alguma para o que fui, mesmo que ele saiba que não será ou seria um adeus, meus "eu" desta jovem vida, tem sorrido para mim e dizendo para continuar. Só assim, pude inventar algo em mim que desde de minha tenra vida adulta não tive. A lucidez de viver ao lado de vocês existindo somente em suas histórias . “So who you gonna call?”